Mundo dos Presentes

Por que damos presentes?

Por que damos presentes?

No diário de hoje, você vai descobrir por que damos presentes e perceber através de exemplos práticos como um presente pode significar muito mais do que apenas um “parabéns”. Ele também pode significar: “Somos apenas conhecidos, não amigos”.

Conversaremos sobre a perspectiva científica de um estudo de Antropologia (ciência que estuda a humanidade), desenvolvido por John Sherry, em relação à cultura de presentear, que é algo ancestral na nossa história e faz parte da comunicação da nossa sociedade.

E por que damos presentes?

O ato de presentear é uma forma de comunicação social e possui três dimensões descritas por Sherry e todas elas envolvem a troca. Em resumo, presentear é uma engrenagem que gira em torno de: dar, receber e retribuir. Se você presenteia alguém, você quer algo em troca daquela pessoa. Na comunicação, presentear pode significar duas coisas de forma bem básica: você doa um presente em troca de fazer parte de um grupo, informando a alguém que quer fazer parte da vida dela. No segundo caso, você quer pôr um limite na relação social que tem com alguém, informando, através do presente, que vocês são apenas colegas de trabalho e que não pretende que a outra pessoa dê em troca uma amizade mais íntima.


As três dimensões do presente

Dimensão Pessoal

Aqui, o presente funciona como uma forma de enfatizar a sua identidade e a do presenteado. Quem é você para a pessoa a quem você doa o presente? E quem é essa pessoa para você? Um noivo (um anel de casamento), um pai de criança (brinquedos), um aluno (caixa de chocolate ou caneca personalizada). Na dimensão pessoal, você comunica quem você é e entrega, em forma de objeto, uma parte de você. Sherry comenta sobre uma metáfora que explica esta doação, comparando o presente com um recipiente que carrega a nossa energia e sentimento. Quem recebe esse recipiente ganha uma parte da essência de quem deu o presente.

Aqui se evidencia o entendimento profundo que você tem da outra pessoa e ela de você. Ou seja, a cultura, religião, gostos pessoais, gosto musical. O presente deve ser condizente com a identidade de cada um. É por isso que, na Dimensão Pessoal, é comum a troca de presentes personalizados, como canecas, camisas e alianças com o nome do casal.

O Presente como estratégia:

O presente pode ser construído de forma estratégica: como você quer ser identificado ao dar um presente? Neste tipo de comunicação, pode haver a intenção de se inserir na vida de alguém, como um pedido de namoro ou o início de uma nova amizade. Já a pessoa que recebe o presente deve retribuir de forma equilibrada. O presente de retribuição não pode competir com o primeiro, para que não haja desconforto e o doador não se sinta inferior ou com a impressão de que deveria ter presenteado algo “mais caro”. A evolução do valor do presente pode acontecer em função das ocasiões ao longo da vida e do quão significativo ele é para as duas pessoas. Por exemplo: um presente de casamento tem mais valor percebido que um presente de namoro. Há, nesse caso, um investimento maior de ambas as partes.

Um exemplo na prática da Dimensão Pessoal

Imagine um professor que marcou a sua vida, alguém que fez a diferença na sua trajetória. No final do ano, você quer presenteá-lo para expressar sua gratidão. Em vez de algo genérico, você escolhe uma caneca personalizada com uma frase que remete às aulas ou um caderno com uma capa que traz uma ilustração que representa aquele professor. Esse presente não é apenas um objeto, mas um reconhecimento da importância dele na sua história.


Dimensão Econômica

Nesta dimensão, o presente evidencia o seu valor. Funciona quase como uma “moeda de troca”, pois quem recebe sente a necessidade de retribuir de alguma forma. No entanto, pode acontecer de o presente ser de um valor que o presenteado não tenha condições de retribuir no mesmo nível. E, se a pessoa escolhe não retribuir, pode provocar um desconforto na relação, mesmo que a culpa não seja de quem recebeu o presente.

Aqui, a relação evidencia o interesse em ser retribuído. Um exemplo perfeito para entender melhor é as festas de Chá de Bebê. Se você recebe um convite para um Chá de Bebê, certamente foi convidado para levar um presente que ajude o casal na nova jornada com o crescimento da família: fraldas, muitas fraldas, mamadeiras, roupinhas, lençóis para berço, etc. Aqui, o presente não evidencia identidade, como na dimensão anterior, mas sim funcionalidade e valor econômico. Você pode até querer surpreender o casal com um presente personalizado, mas, ainda assim, eles estarão esperando que você traga fraldas.

O âmbito corporativo

Seguindo as estratégias de marketing, empresas dão brindes para os clientes com a intenção de receber em troca a recompra do produto ou serviço. Pelo fato de a relação empresa x cliente não ser tão íntima, pode acontecer com mais facilidade a não retribuição do cliente, ainda mais em um mundo com concorrência crescente, onde o cliente tem muitas opções.

O suborno

Aqui está um lado obscuro desta dimensão. Por que damos presentes para uma ocasião como essa? Subornos em forma de presentes são raros, mas acontecem. Neste caso, a motivação está no controle e na manipulação. Esse tipo de presente é capaz de “unir” um relacionamento à força! Isso pode acontecer, por exemplo, quando se recebe um presente extremamente caro que você não consegue retribuir. Tenha cuidado e procure entender a verdadeira motivação do presente: se é generosidade (não espera algo em troca) ou se é uma forma de manter você preso a essa pessoa.

Imagine uma situação hipotética: você recebe um carro de presente de um amigo. Alguns anos se passam e a relação de vocês começa a ter alguns atritos e discordâncias, até que seu amigo começa a te lembrar do dia em que te deu um carro… Ou seja, se for preciso, recuse um presente que você não tem certeza da verdadeira motivação por trás.


Dimensão Social

Aqui, o presente tem a ver com pertencimento. Você presenteia com a intenção de ser inserido em um grupo ou fortalecer um relacionamento com alguém. Esse tipo de presente define ou delimita uma relação, e, por isso, existem normas sociais que determinam o que é apropriado ou não. A mensagem do presente precisa ser clara para evitar desentendimentos.

Se você pertence a um grupo de amigos de uma igreja cristã, por exemplo, não pode presentear com algo que vá contra os valores da fé desse grupo. Se for presentear o chefe da empresa onde trabalha, o presente deve ter um tom profissional, demonstrando gratidão, sem sugerir algo além dessa relação.

O equilíbrio no valor do presente também é essencial. Não deve haver ostentação nem uma tentativa de mostrar superioridade. Vejo muito esse erro em festas de Amigo Secreto, onde o constrangimento já virou rotina. Você escolhe um presente cheio de carinho, até escreve uma carta, e quando chega o dia… ganha uma caixinha com três sabonetes. Quem errou nessa história? Os dois! Um escolheu doar demais, o outro de menos. O resultado? Um se sente injustiçado e o outro desconfortável.

No fim das contas, a Dimensão Social dos presentes não está no valor material, mas no que ele comunica dentro do grupo. Quando presenteamos, estamos reforçando nosso lugar e nossa relação com as pessoas ao nosso redor. E entender essas dinâmicas pode tornar cada troca mais significativa.

Bajulação:

Aqui o presente tem como motivação principal a inserção do doador na circulo social de alguém ou grupo de forma estratégica. O objetivo do presente é chamar atenção de alguém, o doador aqui quer ser notado e ser aceito. Como todo presente precede uma troca, o resultado esperado do presente de um bajulador é que o presenteado retribua com a interação constante. Em alguns casos, o bajulador pode ser inconveniente, exagerando no presente ou forçando uma intimidade que ainda nem foi construída. O presente do bajulador nem sempre vem em forma de objetos, também expressa elogios constantes.

Presentes Intangíveis

Os Presentes Intangíveis são aqueles que não são objetos, mas podem ser tão surpreendentes quanto um presente embalado numa caixa especial. Um jantar preparado com carinho, uma viagem surpresa, uma massagem, ou até a presença de alguém especial é um presente intangível. Mas, como são momentos, não é possível guardá-los para serem lembrados depois. Então, é interessante que um presente assim seja acompanhado de uma lembrança, algo que possa ser guardado e lembrado, como uma fotografia.

Esse tipo de presente deve ser planejado com antecedência. Deve haver um roteiro. Se for um jantar surpresa, deve ser anotado: Qual o dia? Qual o horário que a pessoa vai chegar? O que vai ser preparado no jantar? O que devo comprar? E a vestimenta? O que a pessoa gosta de comer? Quais as restrições alimentícias? Criar um roteiro e segui-lo vai de proteger da insegurança e imprevistos.

Um presente de duas dimensões:

Um presente é capaz estar em duas dimensões ao mesmo tempo. E um elefante pode provar isso:

A história do elefante Abul-Abbas, presente enviado pelo califa abássida Harune Arraxide ao imperador Carlos Magno no século IX, exemplifica duas das principais dimensões do ato de presentear: a dimensão social e a dimensão econômica.

Dimensão Social: Laços Diplomáticos e Prestígio

Na dimensão social, o presente simbolizava pertencimento e fortalecimento de relações entre reinos distantes. O elefante não era apenas um presente exótico, mas uma declaração de respeito e reconhecimento do poder de Carlos Magno. Esse tipo de presente reforçava alianças e demonstrava o interesse do califado em manter boas relações com o Império Carolíngio. Além disso, Abul-Abbas virou uma atração na corte, agregando status ao imperador e destacando-o entre seus súditos e aliados.

Dimensão Econômica: Valor e Excepcionalidade

Sob a ótica econômica, Abul-Abbas representava um presente de alto valor e difícil retribuição. Manter um elefante na Europa medieval exigia recursos significativos, como alimentação e cuidados especializados, o que demonstrava a riqueza e generosidade do doador. Além disso, a posse de um animal tão raro no continente reforçava o poderio econômico e a posição de influência de Carlos Magno, já que poucos monarcas poderiam ostentar algo tão extraordinário.

Assim, o presente de Abul-Abbas transcendeu um simples gesto de cortesia, tornando-se uma ferramenta estratégica de poder, status e relações internacionais.

Conclusão:

Se você conseguiu entender bem as 3 dimensões, então agora você entende o por quê damos presentes e como não errar na escolha do presente certo. Presentear é se comunicar! Analise a ocasião, a relação, a hierarquia, a intenção, a expectativa e não erre mais nesse tipo de comunicação.

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